domingo, 22 de maio de 2011

Surdos fazem manifestação no gramado do Congresso


Cerca de 100 surdos, intérpretes da linguagem de sinais e seus familiares, vindos de todo o país e munidos de velas acesas, ocuparam no início da noite desta quinta-feira (19) o gramado em frente à entrada principal do Congresso. Representados pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), eles estão em Brasília para dois dias de reuniões e manifestações, em mobilização a ser encerrada amanhã (sexta, 20), na área externa do Museu Nacional de Brasília, quando serão realizadas diversas intervenções culturais ao ar livre.
O objetivo dos eventos, que tiveram início na manhã de hoje (quinta, 19) numa reunião com o ministro da Educação, Fernando Haddad, é sensibilizar as autoridades do setor em relação à política educacional voltada para os deficientes auditivos. Ao invés do método da inclusão, adotado pelo MEC, os surdos pleiteiam o sistema bilíngue de educação, que consiste na adoção da linguagem própria. A educação bilíngue, como o nome sugere, implica a adoção de professores especializados na língua de sinais e material didático específico, com foco visual, em todas as escolas do país.
Na ocasião, a presidente da Feneis, Karin Strobel, entregou a Haddad um documento com as solicitações dos deficientes auditivos, e do ministro recebeu a promessa de que as demandas serão devidamente apreciadas. “Nós sofremos muito com o processo de inclusão, que não é adequado. Revolvemos vir de todos os estados do Brasil para fazer uma manifestação com uma proposta de ensino bilíngue, melhor para os surdos”, gesticulou Karin, que também é surda, ao Congresso em Foco, traduzida pela especialista em linguagem de sinais (Libras – Linguagem Brasileira de Sinais) Sandra Patrícia de Faria.
“Às vezes os surdos têm a impressão de que o MEC não entende como deveria ser uma proposta de educação inclusiva de forma adequada. O surdo tem uma língua diferente, por exemplo. Há várias pesquisas que mostram que há muito fracasso escolar na educação dos surdos. A maioria das crianças surdas não sabe ler, tem dificuldade de comunicação”, observou Karin, rodeada de velas que facilitavam a tradução.
As velas foram escolhidas para a manifestação, diz Karin, porque servem como luminosa metáfora contra o período “escuro” por que passaram os deficientes auditivos, em um passado recente. “O que nós estamos buscando agora é a luz. Como a cultura surda é visual, essa luz dá a impressão de que era como se o surdo estivesse cego quando a comunicação acabava, não tinha como visualizar o mundo. Então, estamos buscando essa luz, por meio de uma educação melhor”, acrescentou a dirigente, que tem um filho surdo e diz estar preocupada com a educação que ele receberá no Brasil.
Karin disse que a manifestação também em frente ao Congresso significa a busca por melhorias para a educação de surdos “em vários lugares representativos”. O grupo promoveu uma audiência pública na Subcomissão Permanente de Assuntos Sociais das Pessoas com Deficiência, que é presidida pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ) no âmbito da Comissão de Assuntos Sociais. O senador petista tem uma filha com síndrome de Down, bem como o deputado e campeão mundial de futebol, Romário de Souza Faria (PSB-RJ). Os deficientes esperam que o Congresso também desenvolva políticas que atendam às suas necessidades.
Azul depois de Hitler
Sentados com as velas acesas, dezenas de surdos formavam o símbolo universal do laço no gramado, em que cada cor de laço representa a luta de uma minoria (o da luta contra a AIDS, por exemplo, é vermelho, enquanto o dos deficientes físicos ou mentais é azul).
“No passado, [Adolph] Hitler [líder nazista alemão] buscava a perfeição em um mundo que era desorganizado. Essa cor azul foi escolhida na época para a luta das minorias, especialmente os deficientes”, esclareceu ao Congresso em Foco, segundo a tradutora da Feneis, o ator brasiliense radicado no Rio de Janeiro Nelson Pimenta, de 47 anos, líder do grupo fluminense de deficientes auditivos. Ele explicou que foi a pesquisadora norte-americana Ella Lentz, também surda, que descobriu o uso da cor azul para representar as minorias ao redor do mundo.
Fonte:  Por Congresso em Foco

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